Conhecimento Físico | O RELEVO
Hipsometria
Da interpretação da carta constata-se que a grande diversidade altimétrica que caracteriza o território concelhio se expressa na alternância frequente entre cumeadas (zonas altas) e talvegues (zonas baixas). É, no entanto, possível diferenciar quatro situações altimétricas associadas a circunstâncias morfológicas específicas - as várzeas de Loures e de Bucelas, em conjunto com a margem ribeirinha do Tejo, o planalto oriental, a encosta norte e sudoeste da várzea de Loures e a zona serrana, a norte do concelho.
As cotas mais baixas do concelho, inferiores a 50 m, estão conotadas com a presença e acumulação de água, como as várzeas de Loures e Bucelas, a zona ribeirinha ao longo do rio Tejo e os principais vales, afluentes do rio Trancão.
O segundo conjunto insere-se num plano de cotas ligeiramente mais elevadas, onde não se ultrapassam os 250 m, correspondente aos planaltos da zona oriental do concelho, entre S. João da Talha e Stª Iria de Azóia e entre Camarate e a Ponta de Aguieira.
O terceiro conjunto nas freguesias de Lousa e Fanhões apresenta cotas que chegam a atingir os 400m, associada a formações litológicas de natureza calcária, margosa e vulcânica, como o Cabeço de Montachique (409m) - ponto mais alto do concelho, Cabeça Grande (352m), Penedo Mouro (324m).
A última situação altimétrica pode ser encontrada a norte da várzea de Loures e do concelho, com aumentos progressivos de altitudes que se prolongam para os concelhos vizinhos (Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos), com altitudes entre 250m - Alto do Carvalhal e 338m - Casal das Calhandras Grandes.
Fisiografia
A análise da carta permite constatar uma grande diversidade topográfica no concelho de Loures, especialmente a norte e a sudeste, onde existe uma grande alternância entre as cumeadas com cotas elevadas e os vales encaixados, com direção predominante Norte-Sul. A sul, a topografia é dominada pela várzea de Loures, área de convergência das principais linhas de água, que lhe atribui uma certa homogeneidade, só contrariada pela presença das costeiras.
As ocorrências mais significativas dos talvegues (linhas que unem os pontos das cotas mais baixas) estão relacionadas com as principais linhas de água da bacia hidrográfica do Rio Trancão e das sub-bacias hidrográficas em torno da várzea de Loures: das Ribeiras de Alpriate e Fanhões, Rio de Loures, Ribeira de Pinheiro de Loures e Rio da Póvoa, que apresentam uma orientação na sua generalidade Norte-Sul.
Os talvegues de pequena dimensão drenam diretamente para o rio Tejo, entre Sacavém e Santa Iria de Azóia.
As linhas de festo (linhas que unem pontos das cotas mais altas) assumem grande importância no norte do concelho e nas costeiras de Loures e Bucelas.
No norte são a expressão de linhas de altura secundárias que derivam de um conjunto de grandes festos que rodeiam o concelho e que separam a bacia hidrográfica do Trancão das restantes bacias localizadas a norte, intercaladas por vales profundos. Com a aproximação á várzea de Loures, as linhas de festo deixam de ser tão significativas, tornando a transição entre o vale e a cumeada mais suave.
A sul do concelho demarcam-se as cumeadas associadas ao relevo de costeiras.
Declives
No concelho de Loures predominam os declives suaves, inferiores a 6% (cerca de 25% da área do concelho) e os declives superiores a 16% (cerca de 40% da área concelhia).
Os menores declives (0-6%) dominam na área da várzea de Bucelas, no vale do Rio Trancão, nos seus principais afluentes (Rios de Loures, de Lousa, pequeno e nas Ribeira das Romeiras, da Póvoa, de Pinheiro de Loures, dos Novais, do Alpriate) e na várzea de Loures onde confluem todas as linhas de água referidas. Esta classe está associada a planícies aluvionares, mas também a situações de planalto (no reversos das costeiras), como é o caso do planalto oriental entre Sacavém e Santa Iria da Azóia e o planalto do aeroporto Humberto Delgado.
Os declives intermédios, entre 8 e 16%, estão associados a um relevo que varia entre o ondulado a movimentado, onde as cumeadas alternam com vales encaixados e muito encaixados. Nesta classe começam já a denotar-se limitações à implantação de atividades humanas, quer de edificação (muito pontuais), quer da prática agrícola (segundo processos de armação de terreno e segundo as curvas de nível, evitando perdas de solos significativas).
Os maiores declives, superiores a 25% coincidem com a frente das costeiras de Loures e Bucelas e com os vales muito encaixados, do troço médio do Rio Trancão, da Ribeira do Boição, da vertente direita do Rio Pequeno do Trancão, da Ribeira de Ribas e da vertente esquerda da Ribeira das Romeiras. Esta classe corresponde a áreas de grande sensibilidade à erosão, onde a dinâmica atuante é o movimento de massas superficial ou profundo, devendo ser evitadas situações de impermeabilização (quer por edificação, quer por perda de vegetação).
Morfologia do Terreno
A carta da forma global do terreno foi subdividida em três situações morfológicas: cabeços, vertentes (encostas) e zonas adjacentes às linhas de água (sistema húmido).
Os cabeços são constituídos pelas cumeadas e pelas zonas mais ou menos aplanadas, por isso podem assumir uma largura variável e na sua forma mais reduzida apresentarem-se só como a cumeada. Foram considerados como cabeços as zonas com declives inferiores a 8%, contíguas às linhas de festo primárias e secundárias.
Os cabeços largos são praticamente inexistentes na zona norte, verificando-se apenas em torno da várzea de Loures: a norte, nos terraços de Santo Antão do Tojal e S. Julião do Tojal; a oeste, em Loures; a sul, na Ponta da Agueira e a Este, no planalto da Bobadela e de S. João da Talha.
As vertentes ocupam a maior parte da área concelhia.
Os sistemas húmidos que são constituídos pelas linhas de água e respetivas áreas adjacentes, dominam o sul do concelho ocupando extensas áreas, nomeadamente a várzea de Loures e a zona ribeirinha do Rio Tejo. São também expressivas nos principais afluentes do rio Trancão, nas Ribeira da Póvoa e de Pinheiro de Loures e nos troços finais do rio de Loures e da Ribeira de Fanhões. A norte do concelho são menos representativos os vales largos, sendo de realçar a presença de áreas adjacentes na várzea de Bucelas, ao longo da Ribeira das Romeiras, do Rio Trancão e do Rio Pequeno do Trancão e a oeste de Fanhões, na Ribeira de Casaínhos.
Exposições
A Carta de Exposições considera os oito quadrantes de exposição e apresenta o grau de insolação face à orientação das encostas, facto gerador de diferentes microclimas determinantes no grau de conforto bioclimático e na influência (in)direta da vegetação e das culturas agrícolas praticadas.
As vertentes expostas a sul recebem maior quantidade de radiação ao longo do ano, e o oposto ocorre nas vertentes orientadas a norte. Entre estes valores situam-se os recebidos pelas exposições a Nascente e a Ponte. No entanto, a poente (oeste) os valores de temperatura do ar são superiores, devido ao aquecimento das massas de ar acumulado ao longo do dia, enquanto a nascente (este) a radiação fornecida durante as primeiras horas do dia é gasta na evaporação do orvalho. As superfícies de exposição indeterminada correspondem às formas de relevo aplanadas, ao longo das cumeadas e dos talvegues e por vezes nas vertentes.
Pela análise do mapa podemos constatar que entre as áreas expostas a sul destaca-se a encosta norte da várzea de Loures. As exposições a oeste e a este estão relacionadas com a orientação das linhas de água Norte-Sul que dão origem a vales com vertentes assimétricas, ou seja, vertentes com diferentes declives e exposições, predominando as de exposição a este. As exposições a norte, concentram-se nas frentes do relevo costeiras em Bucelas, em algumas zonas de frente das costeiras de Loures, na encosta sul da ribeira de Pinheiro de Loures (entre Loures e A-dos-Cãos) e em grande parte da encosta do rio de Loures na zona de Bolores.
Unidades Geomorfológicas
As unidades de modelado consideradas no concelho de Loures, resultaram essencialmente da erosão hídrica e das dinâmicas erosivas desencadeadas pelo escoamento superficial desorganizado e pela intervenção humana sobre formações litológica e estruturalmente distintas.
Entre as unidades analisadas, destacam-se as seguintes:
Zonas aluvionares - inclui os aluviões fluviais dos Rios Trancão, de Loures, de Lousa, pequeno do trancão e Ribeira das Romeiras, da Póvoa, dos Novais, de Montachique e de Pinheiro de Loures, estáveis em pedogénese e utilizadas para fins agrícolas. A exceção coincide com o troço final do Trancão onde as zonas denotam uma tendência para a morfogénese com situações múltiplas de impermeabilização de solo, por ação antrópica. Nestas incluem-se ainda as formações aluvionares fluviomarinhas de terraços das zonas marinhas, sujeitas a dinâmicas fluviais e a ações antrópicas do estuário do Tejo.
Relevo de Costeiras - predominante na zona sudeste do concelho, delimitando a várzea de Loures, a zona ribeirinha e o extremo a norte de Santa Iria de Azóia. Com forte tendência para a morfogénese, pelas suas caraterísticas litológicas e estruturais das formações datadas do Oligocénico e Miocénico, onde a erosão do solo e os movimentos de massa desencadeados, potenciados pela escassez de vegetação e pela ação antrópica geram situações de impermeabilização dos solos. Este tipo de relevo é caraterizado por fortes declives que constituem a frente das costeiras, onde afloram cornijas de rocha dura e a depressão subsequente. O reverso constitui um planalto com relevo ondulado suave a muito suave (ROS/ROMS) e fortemente antropizado.
Relevo Ondulado suave a muito suave (ROS/ROMS) - ocupam áreas a sul do concelho, com declives inferiores a 8%, correspondendo o relevo ondulado suave à localidade de Sete Casas.
Relevo movimentado a escarpado (RMV) - domina nas encostas de formações carbonatadas, com alternância de bancadas de rocha duras (calcários ou calcoarenitos) formando cornijas e rocha branda (marga e/ou argilas), como ocorre nas vertentes dos vales muito encaixados do troço médio do Trancão.
Na área do concelho destacam-se na paisagem alguns relevos residuais, na sua maioria com formações basálticas duras e instruídas nas rochas carbonatadas do Cretácico, nomeadamente Alto do Penedo Mouro, Cabeços da Torre, Alto das Tornadas, Picotinhos, Sardinhas, Alto da Toupeira e Mato do Cerco. São ainda relevos residuais as antigas chaminés vulcânicas de basalto, como Montachique, Cabeça Grande e Montemor.
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