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Biblioteca Municipal Ary dos Santos

Livro Memórias do Exílio apresentado em Sacavém

22.05.2018

A Biblioteca Municipal Ary dos Santos, em Sacavém, recebeu, no dia 19 de maio, a apresentação do livro Memórias do Exílio, dos autores Ana Aranha e Carlos Ademar.

  • Livro Memórias do Exílio apresentado em Sacavém
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Depois do lançamento de No Limite da Dor - A Tortura nas Prisões da PIDE, livro que teve origem num programa de rádio com o mesmo nome, emitido na Antena 1, em 2014, eis que surge agora, nos mesmos moldes, Memórias do Exílio, livro que reúne testemunhos daqueles que não puderam ou não quiseram viver no Portugal oprimido, anterior ao 25 de Abril de 1974.
Ana Aranha e Carlos Ademar, autores, estiveram na Biblioteca Municipal Ary dos Santos para falar sobre Memórias do Exílio, acompanhados por Helena Cabeçadas e Fernando Mariano Cardeira, ex-exilados, e ainda pelo editor da Parsifal, Marcelo Teixeira.
Antes de se tornar livro, Memórias do Exílio começou por ser uma série de programas de rádio, com testemunhos das experiências vividas por ex-exilados em países como o Brasil, Bélgica, França, Suécia, Moscovo, Roménia, Marrocos ou Argélia.
“Estes assuntos são demasiado sérios e, por isso, é importante que continuem a ser falados para que a memória não se perca e saibamos de onde vimos”, disse Carlos Ademar. “Não pensem que este livro nasceu para dar rendimentos aos seus autores e editor”, esclareceu. “Foi, sobretudo, um dever de cidadania, porque é preciso relembrar àqueles que viveram esses tempos, e dar a conhecer às gerações mais novas, o que foi esse período da nossa história”.
“Quando pensamos na ditadura associamos muito à PIDE. Mas existem muitas outras formas de repressão vividas pelas pessoas”, acrescentou Ana Aranha. “Dar uma dimensão mais alargada das consequências que esta ditadura teve, é muito importante”.
 

O combate à ditadura
Helena Cabeçadas é uma das pessoas entrevistadas no livro, dando o testemunho do seu exílio na Bélgica, com apenas 17 anos. O seu interesse pela política surgiu muito cedo, aos 14 anos, tendo começado a militar no Partido Comunista. “Fui para o Partido Comunista, mas naquela altura, teria ido para qualquer outro que me convidasse, tal era ânsia de lutar contra o regime”, conta entre risos.
Começou a participar numa série de atividades em colaboração com o movimento estudantil, numa altura em que a vaga repressiva sobre os estudantes começava a aumentar. Helena Cabeçadas relembra que caiu nas mãos da PIDE: “Ainda cheguei a estar presa dois dias em Caxias, mas depois libertaram-me”.
O pior viria depois: “Não me deixaram acabar o liceu. Era expulsa constantemente da escola”. Foi então que decidiu partir para Bruxelas onde fez o exame de admissão à faculdade. “Entrar na Universidade Livre de Bruxelas foi um deslumbramento. Vivia-se um clima de tal vivacidade e de liberdade de pensamento em que se podia discutir tudo”.
Viveu exilada cerca de uma década, tempo que lhe permitiu ainda ir para Paris e viver intensamente a grande onda de protestos do Maio de 68, “entre barricadas e discussões na Sorbonne”.
Fernando Mariano Cardeira, autor da fotografia da capa do livro, foi outro dos exilados, tendo mesmo sido considerado traidor pelo regime, tudo porque deu a cara contra a Guerra Colonial.
Fernando Cardeira entrou aos 18 anos na Academia Militar, local onde teve “a primeira amostra do que era a guerra”, apenas pelos relatos que ouvia. “Tive como camaradas os primeiros homens que foram para a Guerra Colonial”.
Foi o suficiente para decidir desertar com mais nove oficiais do Exército Português, tendo pedido asilo político na Suécia e na Bélgica. Ao chegar à Suécia, Fernando Cardeira deu uma conferência de imprensa, sendo mesmo notícia de primeira página, em contraste com o que se passava em Portugal. “Em Portugal nem se ouvia falar desta deserção”.
O ex-exilado revela, ainda, que escreveu muitas cartas que nunca chegaram ao destino, estando grande partes delas, atualmente, no fundo documental da PIDE/DGS, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.

 


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